Durante toda vida alimentei em mim uma
responsabilidade ferrenha de melhora de mim mesma e ofereci as glórias pra uma
pessoa utópica do futuro quem me tornaria. Quando alcançava algum feito, não me
parabenizava porque tinha que lutar e conquistar mais alguma coisa para me
tornar aquela do futuro que sempre sonhei. Alguém diferente de mim, alguém bem
melhor do que eu.
Mas, quando você castiga uma
pessoa e ela se esforça, melhora e mesmo assim você continua castigando-a, ela
se cansa e não quer mais evoluir. Ela não vai querer chegar mais em lugar
nenhum, porque, aparentemente o que você quer é inalcançável. Se você não a
parabeniza quando ela rompe barreiras e evolui, se você continua a dizer que
essa pessoa não é boa suficiente, ela para de se esforçar, ela para de querer
aprender, porque você só enxerga o erro. Foi o que aconteceu comigo e passei a
negar qualquer sinal de responsabilidade com minha vida e evolução.
Eu planejava, amanhã farei tal
coisa, amanhã praticarei atividade física, e quando o amanhã chegava eu não
tinha interesse nenhum em continuar e passei a querer jogar a responsabilidade
pra esse eu do futuro, esse eu de amanhã, que merece tantas glórias. A partir
daí vi que havia me perdido completamente na imaginação do meu eu utópico.
Existe uma parte de mim que quer
ser diferente, mas existe outra parte de mim que diz que tenho que antes
conseguir apreciar quem sou agora, que só vou conseguir melhorar, a partir da
constituição da ideia de que eu não sou um erro completo, um desastre ambulante
que precisa se erguer das cinzas e virar uma fênix.
Saber que quem eu sou agora é
sempre a mais confiável, determinada e com vontade de evoluir que conheço em
mim. Não existe um eu vindo dos sonhos que não tem medo de nada e revolverá
todos os meus problemas... Quando eu ler mais... Quando estiver me comunicando
melhor... Quando eu estiver melhor.... A responsabilidade não está no futuro,
mas na pessoa que está aqui, agora, no tempo real, no presente.
Entretanto aceitar os desafios do
presente só será possível acreditando que eu tenho o melhor agora, eu mesma,
confiável e onde posso me apoiar para dar passos maiores, não em busca de um
ser perfeito, mas mais experiente que um segundo atrás, oriundos de erros e
aprendizados de mim mesma.
Sou assim, confiável e
apreciável, mesmo com defeitos, pois posso aprender e crescer a partir de mim,
aprender aos poucos, não evitando os problemas com medo da punição evocada por
mim mesma. Mas encarando-os de frente, como desafios do presente aceitáveis
para que eu me transforme, vendo no desafio perspectiva positiva. O que posso
fazer para que esse momento seja bom? E aceitar as experiências e conhecimento
adquirido com o tempo na construção da confiança e aceitação de que o meu eu de
agora é o meu melhor espelho.
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