Peguei-me a olhar pela janela, poderia te escrever, talvez nos
comunicássemos bem por cartas à moda antiga. Como se tu vivesse em um
século e eu em outro. Fingiríamos que não poderíamos nos encontrar até a
realidade bater a nossa porta.
Prometo tapar teus olhos e ficar no
caminho para que não sofras. Mas sei bem que tu me seguraria firme e
viraria meu rosto no sentido dela me impedindo de fugir. Tu me
entregaria aos lobos, faria eu olhar obrigatoriamente nos olhos da
realidade, e eu iria implorar, apela, suplicar, mas ainda assim tu me
segurarias diante dela.
Minha pele começaria a queimar e
meu coração, uma casca de ovo que contém tanta força dentro seria
atingido, bombearia rápido em veias sobrecarregadas da necessidade de
oxigênio.
Ela me olhava com os olhos de dragões e quando meu corpo já
não aguentava, ela se endireitava sob minha pele a querer fazer parte de
mim. E você me diria para abrir os olhos e observar a verdadeira face
da realidade.
Ao olhar em primeiro momento não acreditei
que fosse, mas a vi. Devia ter um pouco mais de um metro, cabelos
castanhos, roupas sujas com tons próximo a pele morena, era... era uma
criança e olhava pra mim de modo suplicante por carinho. Olhos com o
peso do mundo. Abaixei-me para olha-los de perto e a sensação que
imaginei segundos antes voltou, mas de forma mais lenta.
De forma mais
lenta senti meu coração doer um pouco, mas porque era lento a casca que o
envolvia fechou-se ainda mais forte em torno dele. Tinha certeza que se
desse a mão à criança a casca em torno do meu coração se dissiparia sem
dor. Mas fiquei com medo de ficar sem minha casca, ficar sem minha
casca, como barata que troca de pele e fica completamente desprotegida.
Desprotegida contra dor e até do amor, e porque tive medo, ela sumiu.
Agora meu coração tem casca que a cada leve dor se intensifica, mas
existem sentimentos dentro dele que as vezes batem forte por dentro e há
momentos que eu não sei se ele poderia remove-la sem machucar-me
completamente. Então espero pelo seu retorno e que eu tenha coragem
suficiente de ser uma barata descascada.
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